quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Ricardo Uchôa - Indra [1981]





Aluno do mestre Sivuca na infância, que me introduziu arranjos e harmonias nas calmas tardes de aulas particulares, ao abrir o portão, uma cadeira a espera, e o mestre sentado com a sanfona no colo. Lá pude ouvir seus arranjos, receber informações de base, solos e acompanhamentos, tudo ficou guardado até um dia ter contato direto com outros músicos; veio o amigo Lula Côrtes com seu tricórdio, em outras mansas tardes de Beberibe junto a Zé Ramalho, Tito Livio, Don Tronxo, Erasto Vasconcelos, Agricinho Nóia, Israel Semente, Ivinho, Geraldinho Azevedo, Marconi Notaro, Alceu Valença e outros poetas.

As turnês, os ensaios, a vida abrindo janelas, amores, pensamentos e tempo para refletir na vida trouxeram uma forma de expressão lá dos cadernos confidentes que foram abrindo novas folhas, a viola, a percussão com o Flor de Cactus e no show ao vivo em Natal com Agrício na banda de Alceu, até que em Candeias junto aos cavalos e a beira do mar se abriu o velho baú com tudo vindo a tona tentando compreender, filosofia e vida.

Não havia musica nos poemas, eu nem sabia que o que eu escrevia era poema, pensava que era só uma forma de ver e falar a mim mesmo os fatos e emoções. Foi nessa época em uma visita de Don Tronxo em Candeias na qual ele pegou meu caderno e lendo, olhou pra mim e disse: “isso é musica”. Nesse dia fizemos “Candeias” gravado por ele, depois, passei a olhar e colocar as mais simples harmonias nos escritos e fizemos “Rouxinol” que virou um xote cadenciado e foi gravado por Guadalupe e depois por Alceu Valença, das fotografias que eu pintava apos um sonho chegou o “Blue d’Aurora”, outro poeta e amigo aviador o “Damata” me falou de Henrique que estava estudando bateria e sugeriu uma visita minha, lembro que selei o cavalo “ouro preto” peguei o violão e fui galopando ate a casa do Henrique em Piedade, onde para surpresa, lá encontrei o Risashi (guitarra) e o Zeco (baixo), a banda estava formada. Voltando pra casa depois do primeiro ensaio escrevi “Cavalo do Tempo” que depois, lembro ter andado com o Alceu em candeias cantarolando, foi tudo muito espontâneo e bonito, acordei no meio da noite com o vento que abriu a porta e escrevi “Noites de vento”. Em uma madrugada sentei na areia para assistir o nascer do sol, ao lado achei uma caneta, enfiada na areia, um papel no bolso e escrevi “Muitas belezas eu vi” olhando a prata no mar e ouvindo as folhas dos coqueiros.

Com umas onze músicas selecionadas, o próximo passo foi tentar gravar o LP “independente”(o que custou minha geladeira pra completar o pagamento do estúdio), fizemos com o Janjão no estúdio do Zé da Flauta. Durante a gravação de surpresa, convidei o Ivinho, o Israel Semente, Agricinho, Erasto e o disco foi sendo montado conforme estava na minha cabeça, chegavam os músicos, ouviam a base e colocavam seus arranjos.

Fase final: Com a fita demo, viajamos para o Estúdio Eldorado para a mixagem junto com o Indra que inspirou o nome do disco e Cristina Lundgren. Tiramos 1.150 copias do LP, fizemos a capa e distribuímos.

(Por Ricardo Uchôa para o Som Barato)






Download: Indra [1981]

Faixas:
01. Mar de luz
02. Carrapixo
03. Pingo
04. Cor de maduro
05. Aranha verde
06. Andar pela chuva
07. Muitas belezas eu vi
08. Cavalo do tempo
09. Blue d'aurora
10. Noites de vento
11. Mensagens de luz

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